terça-feira, 6 de julho de 2010

Telefone

Seria tão bom se sentimento fosse como a um computador. Apertou delete e pronto. Já era, nenhum sinalzinho de nada. Seria muito melhor, evitaria muitas lágrimas, tempo, terapia e choro no ouvido das amigas. Ah, já faz tanto tempo, e o que posso fazer? Já sei, vou colocar em frente a sua casa uma faixa gigante escrito: VOLTA PRA MIM? Eu poderia também fazer uma tatuagem na testa com seu nome, ou poderia pichar toda a cidade com ‘eu te amo’ para que todos soubessem do meu sentimento. Ta, nada disso surtiria efeito. E eu não sou idiota. Estou sem perspectiva. Então pego meu celular, coloco no restrito e te ligo. Os segundos que antecedem que você atenda me matam, me destrói, meu coração dispara, minha garganta seca, minha barriga congela, penso em desligar. Que aflição. São segundos, estou muito nervosa. Vou desligar. ‘ALÔ... ALÔ?’ Você me atende. Voz de quem estava dormindo. Me sinto tão feliz por poder te ouvir. Tão feliz, e tão boba. E ao mesmo tempo tão infeliz por não poder te dar um Oi, e dizer que sou eu. Dizer que ainda te amo. Mas o que adiantaria? O que você pensaria? Não faria sentido eu te ligar depois de tanto tempo. Não faz sentido. Mas eu te liguei, porque ainda não te esqueci, porque quando eu estou pensando em você até pelas ruas mais escuras eu passo sem medo. Mas não posso falar nada, então desligo com um nó me sufocando a garganta. Me deito e escrevo qualquer coisa que me faça te amar mais. Olho pra tudo em minha volta e penso quão ridículo é a vida. Eu escutando uma música tão bonita, tendo uma vida tão bonita e tendo a absoluta certeza de que trocaria tudo isso. Trocaria passado, presente e futuro só pra ouvir meu celular tocando e sendo você do outro lado da linha. Nem que fosse pra dizer que eu não sou mais nada pra você e você sabe que sou eu quem te ligo com numero restrito. Mas pensando melhor, e conseqüentemente sonhando um pouco mais. Seria muito bom se você ligasse e dissesse que ainda gosta de mim, que cometeu um erro e me quer de volta. Ai, quanta fantasia. O meu erro foi ter acreditado em todas as vezes que você me ligava e dizia que me amava. Não dei valor e tudo acabou muito rápido. Mas me diz, antes mesmo de te conhecer eu já te amava, como não amar agora? Agora que eu já sei seu nome, telefone e endereço? Como não te amar? Como não te esperar? Me diz que eu estou certa em te esperar, me diz que eu devo te esperar, me diz que também me ama. Ou devo pegar esse celular jogar fora e me livrar de uma vez da vontade de te ouvir novamente?

(b. monitchelle)

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